Hoje tive um sonho estranho.
Estava numa casa com uns 50 gatos, todos resgatados. Havia muita vida e os gatos brincavam, como os gatos fazem. O tempo passou.
Me vi 20 anos depois, na mesma casa. Não havia mais gatos. As paredes se deterioravam e sucumbiam ao redor.
Acordei.
No limbo entre desperto e dormindo, me vi com 59 anos. Um ano antes de atingir o que se chama terceira idade, quando já se deveria estar mais sábio, maduro. O momento de colher e distribuir o que se cultivou.
Um sonho sobre o tempo e o rastro que deixamos nele.
Mas que rastro é esse se tudo está se desfazendo? Os gatos e as pessoas que cuidaram dos gatos se foram. A própria casa estava indo também. O que ficou?
A ação em si. A ação pela ação. A energia movimentada, que perpetua. Como uma pedra que cai num lago, a pedra se vai, e as ondas ficam. Reverberam, se expandem, e tocam outras pedras. Por aquele breve período, os gatos sofreram menos, e puderam viver todo o seu potencial, como gatos. Isso basta. Esse é o papel da pedra.
Qualquer que seja a parte de mim que gerou esse sonho, parece que ela sabe mais do que eu, pois me fez pensar.
Que rastro estou deixando no tempo? Que tipo de ondas ficarão pela minha passagem? O que estou cultivando para colher e distribuir quando a maturidade chegar?